O terceiro episódio da 5ª temporada de Stranger Things chega como um verdadeiro ponto de virada emocional e estrutural dentro da despedida de Hawkins.
| 5ª temporada Stranger Things (NETFLIX) – S05E02 – Review
Depois de dois capítulos que se dedicaram a reorganizar núcleos, ajustar o tom sombrio e recolocar cada personagem em sua trajetória, este episódio finalmente acelera de maneira decisiva, trazendo de volta a sensação clássica de ameaça constante que sempre definiu as melhores fases da série. Aqui, o terror não é apenas físico — ele é psicológico, íntimo e profundamente conectado aos traumas que marcaram todos os envolvidos.
O clima muda por completo. A narrativa abandona o respiro inicial e mergulha em um estado emocional mais cru e pesado, refletindo nas atitudes, nos silêncios e na forma como cada personagem pressente que algo ruim está prestes a retornar — ou, talvez, que nunca chegou a ir embora. Há um desconforto que cresce, uma tensão que se instala e uma atmosfera sufocante que domina Hawkins de forma quase orgânica, reforçada pela direção que aposta em sombras, ruídos e enquadramentos fechados para transmitir a sensação de vigilância constante.
Desenvolvendo os personagens
Nesse ponto, o episódio se destaca por seu desenvolvimento de personagens. Eleven (Millie Bobby Brown) vive talvez seu momento mais vulnerável da temporada. A fragilidade aqui não está em seus poderes, mas em sua identidade: ela carrega o peso de ser vista como “a única solução”, e a narrativa explora isso com delicadeza e intensidade. É um conflito silencioso, refletido em olhares e hesitações, que mostra uma Eleven mais humana do que nunca.
Ao mesmo tempo, Will Byers (Noah Schnapp) finalmente volta ao centro da trama, numa construção que resgata a essência do personagem desde a primeira temporada. Ele sente uma presença, um chamado, uma perturbação que ninguém mais consegue perceber — e o roteiro usa essa sensibilidade como uma peça fundamental para reacender o vínculo com o Mundo Invertido. O episódio devolve a importância emocional que Will sempre deveria ter tido, e Noah entrega uma das atuações mais delicadas da temporada.

Enquanto isso, Mike (Finn Wolfhard), Lucas (Caleb McLaughlin) e Dustin (Gaten Matarazzo) recuperam a dinâmica clássica do grupo, equilibrando humor, amizade e medo real. Eles são o núcleo responsável pelas melhores trocas de diálogo, mas também pela sensação de que a normalidade está apenas à beira do colapso. A maturidade do trio se reflete em decisões mais conscientes e reações mais complexas, reforçando a força emocional da série em sua reta final.
Terrot atmosférico das primeiras temporadas …
A trama avança com sutileza, mas com enorme propósito. O episódio não entrega respostas diretas, mas deixa evidente que a ameaça jamais recuou totalmente. Ela está ali, infiltrada nas frestas da realidade, se manifestando em pequenos sinais, pressões psicológicas, ecos do passado e sensações que conectam personagens específicos ao lado sombrio da história. Tudo isso prepara terreno para uma grande virada no episódio 4, com indícios que exigem atenção e reforçam o cuidado dos roteiristas na construção de um crescendo narrativo.
A direção é um dos grandes destaques. Não há grandes criaturas em cena ou confrontos espetaculares, mas existe uma atmosfera de horror psicológico construída com precisão. Hawkins parece respirar medo, como se um silêncio inquietante segurasse o ar antes de algo finalmente acontecer. A fotografia se apoia em sombras densas, corredores vazios e ambientes que sugerem mais do que mostram — uma das escolhas estéticas mais eficazes da temporada.
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Se existe um ponto de atenção, ele está no ritmo, que pode soar lento para espectadores que esperam ação constante. Mas isso faz parte da proposta: este é um capítulo de construção emocional, de alinhamento dramático e de preparação para consequências maiores. Ele existe para fortalecer personagens, aprofundar feridas e intensificar o desconforto. E funciona — muito bem.
O episódio 3 da 5ª temporada de Stranger Things é um dos mais densos e emocionalmente complexos da série. Ele reafirma a importância dos personagens, recupera o terror atmosférico das primeiras temporadas e posiciona a narrativa no caminho de uma virada inevitável. É a prova de que a força de Stranger Things nunca esteve apenas em monstros ou batalhas, mas no impacto emocional que cada um carrega consigo.
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