Episódio 3 de Bem-Vindos a Derry desacelera o terror e fortalece a conspiração — e isso muda tudo.
O terceiro episódio de Bem-Vindos a Derry adota uma postura diferente dos dois anteriores. Se antes a série mergulhava de cabeça no horror gráfico e no body horror, aqui a narrativa faz uma pausa calculada para respirar — e, nesse respiro, o terror ganha outra forma: a do mistério, da sugestão e da paranoia crescente.
A partir daqui, o texto pode conter SPOILERS!
| Bem-Vindos a Derry (HBO) – S01E01 – Review
A força do capítulo está na aproximação entre as crianças. Lilly e Ronnie, depois dos traumas intensos dos episódios anteriores, finalmente deixam o medo de lado para buscar algo concreto: uma prova física da criatura que ronda Derry. Para isso, chamam Will e Rich, formando um pequeno grupo que lembra um “rascunho” do futuro Clube dos Perdedores. Ainda não são heróis — são apenas crianças assustadas tentando entender o que está lhes perseguindo. E é exatamente por isso que funcionam tão bem.
A sequência mais simbólica acontece no cemitério. As crianças percorrem o local com uma câmera, buscando registrar o impossível. Entre túmulos e folhas úmidas, figuras translúcidas aparecem ao redor deles. A ideia é potente: Derry não deixa seus mortos descansarem. Porém, o uso de CGI em excesso pode dividir o público — alguns podem achar que isso enfraquece o impacto emocional da cena, que deveria soar mais assombrosa do que espetacular.
Now You See it!?
Paralelamente, o arco militar se torna mais denso. O General Shaw intensifica a operação secreta ligada a algo enterrado em Derry — algo valioso, perigoso e possivelmente ligado ao próprio funcionamento da entidade que domina a cidade. Leroy Hanlon e Capitão Pauly recebem ordens para acompanhar Dick Hallorann em um novo deslocamento estratégico, ampliando a trama para além do sobrenatural e revelando que o medo, em Derry, virou praticamente um recurso militar.

Essa expansão conecta Derry a conflitos políticos reais. Isso vem reforçado na reunião tribal envolvendo Rose, que denuncia a presença militar como uma invasão territorial e cultural. A série, aos poucos, deixa claro que o mal não está apenas nos esgotos: ele também existe nas dinâmicas de poder, nas tensões históricas e na forma como comunidades inteiras são ignoradas ou silenciadas.
O título “Now You See It” funciona como um comentário direto sobre o episódio. Aqui, o mal quer ser visto, mas apenas parcialmente — como se estivesse provocando as crianças, encenando pequenas revelações para prepará-las para algo maior. É o jogo da visibilidade: mostrar o suficiente para causar medo, esconder o suficiente para impedir qualquer compreensão real.
Um episódio importante …
No aspecto visual, o episódio assume um ritmo mais contemplativo, com menos choque visceral e mais foco na atmosfera. Isso permite que as relações entre os personagens se aprofundem e que a mitologia cresça. Ainda assim, o CGI inconstante pode ser um ponto de discussão — especialmente quando comparado à estética mais sólida dos dois primeiros capítulos.
| IT: Bem-Vindos a Derry (HBO) – S01E02 – Review
Narrativamente, este é um episódio de transição. Ele abre novas portas, deixa perguntas no ar e prepara terreno para um confronto maior. O risco é a dispersão — há muitas frentes acontecendo ao mesmo tempo. Mas esse também é o charme de Bem-Vindos a Derry: a série abraça a ideia de que o mal é múltiplo e se manifesta de formas diferentes para cada grupo da cidade.
“Now You See It” não é o episódio mais chocante da temporada, mas é um dos mais importantes. Ele costura mistério, política, espiritualidade e trauma, enquanto consolida a união das crianças e aprofunda o lado obscuro da operação militar. Derry começa a revelar que não apenas uma cidade assombrada — um organismo vivo, cheio de memórias, conflitos e monstros à espera de serem vistos.