O quarto episódio de IT: Bem-Vindos a Derry não é apenas um marco de meio de temporada. Um divisor de águas que mergulha no coração cósmico do mal de Stephen King. Intitulado poeticamente “O Grande Aparato Giratório do Funcionamento do Nosso Planeta”. Ou seja, este capítulo muda o foco do medo infantil imediato para as raízes mitológicas de Pennywise, tecendo uma tapeçaria mais rica e complexa do universo de Derry.
| Bem-Vindos a Derry (HBO) – S01E01 – Review
A partir daqui, o texto pode conter SPOILERS!
O maior trunfo do episódio reside em finalmente concretizar as sugestões sobre a origem da Coisa, que no livro It é um mistério vasto e quase incompreensível.
A Revelação da Origem: O Galloo e a Estrela
Através do personagem Dick Hallorann (o vidente de O Iluminado) e do nativo-americano Taniel. A série revela a lenda do “Galloo”: uma entidade maligna, um espírito puro que caiu na Terra há milhões de anos. O episódio confirma que a Coisa chegou a Derry a bordo de um meteoro, ou uma “estrela”, muito antes da existência humana.
Essa revelação é mais do que um flashback; ela é um elemento-chave na narrativa. Ao descobrir que o objeto que trouxe a Coisa servia também como sua prisão e que os fragmentos dessa “estrela” são a única fraqueza da entidade. Além disso, o episódio oferece ao público e aos personagens a primeira arma real contra Pennywise. O mal em Derry tem, finalmente, uma “kryptonita”, um conceito essencial para criar tensão dramática e esperança na luta.

O episódio utiliza Dick Hallorann de uma forma que o conecta diretamente ao núcleo do mal de Derry. Ao ser coagido a usar a sua habilidade de “Iluminação” (Shining) pelo General Shaw e o Projeto Especial da Base Aérea, Hallorann não apenas descobre o mito do Galloo, mas é forçado a confrontar o horror cósmico.
| IT: Bem-Vindos a Derry (HBO) – S01E02 – Review
Paralelamente, a luta do Major Leroy Hanlon contra o racismo e a paranóia dentro da Base Aérea se intensifica. O episódio é magistral ao contrastar o terror sobrenatural com a opressão real. Sugerindo que a Coisa se fortalece com a discórdia e o ódio da sociedade. A desconfiança de Hanlon em relação à sua esposa e ao General Shaw demonstra como a maldade de Derry infecta as instituições e os relacionamentos pessoais, tornando o Major um personagem central na luta contra os demónios humanos e sobrenaturais da cidade.
A Resiliência (e Erros) dos Adolescentes
Embora a trama adulta domine o episódio com revelações de lore, o núcleo infantil avança na sua tentativa de provar o que viram. Lilly, Will, Ronnie e Rich tentam levar as fotos do cemitério ao Chefe Bowers, encontrando a negação e a hostilidade adulta.
A cena em que Lilly distribui os “ajudantes da mamãe” — pílulas de ansiedade de sua mãe — aos amigos para tentar “bloquear o medo” é uma das passagens mais perturbadoras. Ela simboliza a desesperada tentativa das crianças de medicar a própria realidade para sobreviverem ao horror. Ou seja, prenunciando a trágica forma como muitos adultos em Derry optam por ignorar o mal.
| IT: Bem-Vindos a Derry (HBO) – S01E03 – Review
“O Grande Aparato Giratório do Funcionamento do Nosso Planeta” não avança tanto na ação de jump scares quanto nos episódios anteriores. Mas é o capítulo mais importante em termos de construção de mundo e de mitologia.
Em suma …
O episódio cumpre a promessa de ser um prelúdio satisfatório ao responder às grandes questões. Ou seja, sobre a origem de Pennywise e, mais importante, ao dar aos heróis o conhecimento necessário para lutar. A introdução da vulnerabilidade da Coisa e a conexão direta com o universo de O Iluminado através de Hallorann elevam IT: Bem-Vindos a Derry de uma simples série de terror a uma obra essencial dentro do cânone de Stephen King.
É um episódio que pede para ser revisto, cheio de detalhes que solidificam a cidade de Derry como o locus de um mal ancestral e indestrutível.