Faça Ela Voltar: o terror psicológico mais angustiante do ano!
“Faça Ela Voltar” é aquele tipo de terror que não assusta apenas — ele corrói por dentro. O filme começa como um drama de perda e rapidamente se transforma em uma espiral de dor, obsessão e desequilíbrio psicológico que vai muito além das convenções do gênero.
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A narrativa acompanha os irmãos Andy (Billy Barratt) e Piper (Sora Wong), duas crianças arrancadas da própria vida após encontrarem o pai morto e serem levadas para a casa de Laura, interpretada com precisão inquietante por Sally Hawkins, que entrega aqui uma das performances mais intensas de sua carreira. O que parece inicialmente um abrigo provisório se revela um território emocionalmente instável, dominado por silêncios desconfortáveis, gestos dúbios e uma sensação constante de que algo está profundamente errado.

A força do filme está na forma como ele constrói o horror a partir da intimidade. Em vez de recorrer ao susto fácil, “Faça Ela Voltar” trabalha com aquilo que não é dito — olhares que duram um segundo a mais, portas que se fecham devagar demais, ruídos que surgem quando ninguém deveria estar acordado. Laura surge como uma figura dividida entre generosidade e ameaça, e Hawkins encarna essa ambiguidade com uma sensibilidade rara. Sua fragilidade emocional é visível desde o início, mas é justamente essa fragilidade que se transforma, pouco a pouco, na semente do horror. Ela é uma mulher marcada por perdas irreparáveis, que enxerga nessas crianças a chance de preencher um vazio que já ultrapassou todos os limites da sanidade.
Atmosfera Claustrofóbica
O vínculo entre Andy e Piper funciona como o contraponto emocional da história. O filme constrói essa relação de forma natural e afetuosa, o que torna ainda mais doloroso acompanhá-los enquanto tentam sobreviver à nova realidade. Andy assume o papel protetor, mas é um menino, não um herói; sua vulnerabilidade aumenta a tensão, enquanto Piper representa a inocência que o filme faz questão de ameaçar constantemente. E então surge Oliver ( Jonah Wren Phillips) o garoto misterioso que já vivia com Laura. Sua presença é desconcertante desde o início, não porque ele faça algo terrível, mas porque parece carregar um tipo de silêncio que carrega segredos profundos. Ele é, de certa forma, o espelho do que a casa realmente é: um lugar onde nada está fora do lugar, mas tudo está errado.

A atmosfera é construída com um cuidado impressionante. A casa se torna um personagem próprio — claustrofóbica, organizada de maneira obsessiva e marcada por pequenos detalhes que só fazem sentido mais tarde. O diretor aposta em um terror psicológico crescente, que mistura elementos de body horror, simbolismos religiosos distorcidos e um drama familiar que se contorce até se transformar em um pesadelo emocional. Nada aqui é gratuito: cada gesto, cada objeto, cada cena que parece inofensiva acaba ganhando peso no desenrolar da trama. A sensação de aprisionamento é tão forte que, conforme a história avança, o espectador começa a sentir que também está preso ali dentro.
Dor, culpa e desespero
É verdade que “Faça Ela Voltar” pode dividir opiniões. Quem espera explicações diretas ou terror sobrenatural explícito pode se frustrar com a escolha por uma abordagem mais psicológica, mais densa e menos literal. O roteiro também abraça algumas conveniências narrativas, especialmente no modo como a adoção acontece e em certos elementos do ritual que permeia a história, mas nada disso enfraquece o impacto emocional do filme — que, aliás, é devastador. A proposta aqui não é contar uma história de horror tradicional, e sim transformar o próprio trauma em entidade, em presença, em algo que se infiltra na narrativa como uma força inevitável.
No final, “Faça Ela Voltar” não é apenas um filme de terror — é um estudo sobre dor, culpa e desespero. O horror nasce da tentativa desesperada de manter vivo aquilo que já morreu. Além disso, o filme entrega isso com uma intensidade que incomoda porque atinge o emocional antes do racional. É tenso, perturbador e profundamente humano, um terror que surge do que sentimos e do que tentamos esconder. Pertence ao grupo dos filmes que permanecem com o espectador muito depois do fim — não pelo susto, mas pela cicatriz emocional que deixa.