O segundo episódio de It: Bem-Vindos a Derry aprofunda de maneira inquietante o horror pessoal e sobrenatural. Ou seja, mostrando que Derry não é apenas uma cidade assombrada — é um lugar onde o medo se materializa de formas grotescas e inesperadas.
A partir daqui, o texto pode conter SPOILERS!
| Bem-Vindos a Derry (HBO) – S01E01 – Review
O destaque emocional recai sobre Ronnie (Amanda Christine), que vive um pesadelo terrível durante a noite: seu próprio quarto parece se transformar em um útero vivo, a cama pulsa como um coração, os lençóis se movem, e uma figura monstruosa — inspirada em sua mãe morta — surge ligada a ela por um cordão umbilical. Essa cena não é apenas assustadora: é carregada de simbolismo sobre nascimento, culpa e o vínculo entre mãe e filha. Além disso, evidencia como o terror de Derry afeta profundamente a psique dos moradores.
Enquanto isso, Lilly (Clara Stack) enfrenta uma tortura mental igualmente intensa. Em uma ida ao mercado, ela tem alucinações perturbadoras: prateleiras se movem sozinhas, rostos macabros aparecem em caixas de produtos e, em potes de picles, ela visualiza partes do corpo do pai, reorganizando-se de forma monstruosa. É uma sequência que une o horror surreal ao drama pessoal, mostrando como o trauma familiar e o mal sobrenatural estão entrelaçados.
Denso e corajoso
Do outro lado da trama, a série avança com a Operação Precept, comandada por Leroy Hanlon (Jovan Adepo). A ideia de uma missão militar para “capturar o medo” sugere que o mal de Derry não é apenas simbólico — é uma força concreta, que pode ser manipulada e estudada. Essa abordagem converte a ameaça em algo quase bélico, adicionando um componente conspiratório e político ao terror.

Um dos momentos mais interessantes é a introdução de Dick Hallorann (Chris Chalk). Personagem que muitos fãs reconhecem por seu papel em outras obras de Stephen King. Aqui, ele contribui para a operação militar com um dom sensorial, sugerindo que sua “luz” (o famoso “shine”) pode estar mais ligada à essência de Derry do que jamais imaginamos.
Visualmente, o episódio mantém a atmosfera pesada e retrô. A direção de Andy Muschietti — aliada a uma fotografia escura e quase claustrofóbica — reforça a sensação de perigo constante. Mesmo nos momentos “cotidianos” (como o mercado), há algo de obscuro e não resolvido, como se a normalidade estivesse corroída por uma presença invisível.
No entanto, essa ambição narrativa também traz riscos. Há muitos fios sendo puxados: terror psicológico, conspiração militar, drama familiar… pode haver uma sobrecarga em certas sequências, especialmente quando a série tenta equilibrar sustos grotescos com desenvolvimento de personagem. Para alguns espectadores, as cenas de horror podem parecer exageradas ou “de impacto” demais, e não tanto de construção gradual.
“The Thing in the Dark” é um episódio denso, corajoso e emocionalmente carregado. Ele eleva o nível de horror introduzido no piloto, investe nas dores íntimas de seus protagonistas e tece uma mitologia mais ampla que conecta corpo, medo e poder. Em suma, se a série continuar nesse ritmo, a história de Derry promete ser tão sobre tragédia humana quanto sobre monstros.
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