A sequência de terror O Telefone Preto 2 explora as cicatrizes do trauma e revela que o legado sobrenatural da família Shaw é mais antigo do que se pensava.
O retorno ao universo sombrio de O Telefone Preto na sua aguardada sequência aprofunda não apenas o terror sobrenatural que consagrou o primeiro filme, mas, principalmente, as sequelas devastadoras deixadas no psicológico dos irmãos Finney Shaw (Mason Thames) e Gwen Shaw (Madeleine McGraw).
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Se no longa original víamos Finney lutando pela sobrevivência dentro do porão do sádico sequestrador conhecido como “O Raptor” (Ethan Hawke), agora acompanhamos o depois: as cicatrizes emocionais, os fantasmas — literais e metafóricos — e um ciclo de violência que parece perseguir a família Shaw desde muito antes do primeiro encontro com o assassino.
O filme se inicia com uma abertura perturbadora, transportando o espectador de volta a 1957 nas Rocky Mountains, Colorado. Com uma atmosfera quase documental, a tela é preenchida por imagens granuladas, recortes de jornais e vídeos de arquivo que parecem retirados de casos reais. Nelas, uma garota aparece tendo sonhos premonitórios com sete números gravados no gelo, um símbolo cuja função narrativa só se revela mais tarde. Essa introdução funciona como um aviso climático: o mal que assola a família Shaw não começou com Finney; ele é parte de algo maior e muito mais antigo.
Vencer, sem vitória?!
De volta ao presente da narrativa, Finney (Mason Thames) reaparece quase irreconhecível em termos emocionais e comportamentais. O garoto é agora mais introspectivo, reativo, e visivelmente marcado pelo trauma. Ele se torna alvo de provocações de colegas que não acreditam em sua história e busca refúgio fumando maconha para “acalmar” sua ansiedade. Em momentos, Finney vê o assassino novamente — não como um fantasma literal, mas como uma manifestação visceral dos seus gatilhos psicológicos. O filme deixa a mensagem clara: ele venceu o Raptor… mas não saiu vitorioso da batalha mental.

Enquanto isso, Gwen (Madeleine McGraw) continua sendo o coração sobrenatural da trama. Se no primeiro filme suas visões a conectavam às vítimas, aqui elas se tornam mais gráficas, fragmentadas e assustadoras. Ela vê crianças mortas e sangue, e acorda com o som do telefone tocando — mesmo estando longe do porão onde o terror original ocorreu. A perseguição na escola, onde as populares a chamam de “bruxa”, reforça o ciclo de julgamento que recai sobre mulheres sensíveis ou espiritualmente conectadas. A estética das visões se destaca, com a imagem trepidando e ganhando chuviscos, como se o filme entrasse em outra frequência de pesadelo consciente.
Perturbador
Com aproximadamente 20 minutos, o roteiro de Scott Derrickson e C. Robert Cargill faz um giro crucial, revelando que a menina que viu os números gravados no gelo em 1957 era, na verdade, a mãe de Gwen e Finney. É nesse ponto que as peças se encaixam: as visões de Gwen são uma herança e o “chamado” sobrenatural sempre esteve na linhagem da família. Essa herança espiritual conecta todos os eventos, transformando o conflito em algo muito mais pessoal e enraizado. Guiada por suas visões, Gwen decide retornar ao acampamento da mãe, levando Finney junto.
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A volta ao local se torna um cenário perfeito para o horror psicológico. O acampamento está fechado, os irmãos estão isolados, e uma tempestade de neve aprisiona a dupla no chalé. É aqui que o domínio técnico de Scott Derrickson brilha: a câmera desacelera, o som fica mínimo, e cada ruído — um estalo, o vento — cria pavor pela antecipação. O cenário de isolamento absoluto, frio e memórias traumáticas prepara o palco para a revelação do terceiro ato: O Raptor (Ethan Hawke) não terminou sua história. Ele está de volta, mas não em forma física. Uma entidade que se alimenta do medo e busca vingança.
Em suma, O Telefone Preto 2 não tenta repetir a fórmula do primeiro filme. Ele a expande, aprofunda o drama dos sobreviventes e revela que o mal não se encerra quando o porão é deixado para trás. O filme se destaca pelo trabalho intenso de Mason Thames, que entrega um Finney quebrado, mas resistindo, e Madeleine McGraw, que carrega a parte emocional do filme com força. É um filme tenso, frio, psicológico e emocionalmente devastador, que funciona como uma expansão inteligente e sombria para o universo de terror.
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