O quarto capítulo de Servant S01, intitulado “Bear”, solidifica o clima de estranhamento psicológico que define a série da Apple TV+, expandindo a aura de mistério que cerca a babá Leanne Grayson (Nell Tiger Free) e a perturbadora presença do boneco Jericho. É um episódio que trabalha intensamente com o desconforto, apostando em tensão silenciosa, forte simbolismo visual e pequenas insinuações que corroem a sanidade da família Turner.
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A obsessão e a desconfiança de Sean Turner (Toby Kebbell) atingem um novo patamar. O episódio ilustra sua dificuldade em lidar com a presença de Leanne na casa, e sua crescente frustração diante da negação de Dorothy Turner (Lauren Ambrose) em perceber qualquer anormalidade. A sequência inicial, na qual Sean encontra o boneco Jericho em uma posição sutilmente diferente, é um exemplo clássico do terror psicológico da série: nada é explicitamente sobrenatural, mas tudo parece inexoravelmente fora do lugar.

Sean, cuja profissão na culinária o faz entender o mundo pela manipulação e controle sensorial, cria um contraste intrigante ao tentar racionalizar o mistério que se aproxima, que não parece pertencer ao plano material. Detalhe importante, este episódio marca as primeiras dores nos nervos e nas papilas gustativas de Sean, um sintoma sutil, mas que se tornará crucial para o desenrolar do seu arco.
Perturbador e Inesperado
Dorothy Turner (Lauren Ambrose) continua vivendo em uma negação sofisticada. O episódio explora como ela projeta uma maternidade idealizada em Leanne, com sua fixação na normalidade beirando o delírio. Lauren Ambrose entrega nuances excelentes, balanceando a alegria forçada e o otimismo exagerado com a recusa em enfrentar qualquer verdade. Um dos momentos mais simbólicos é quando Dorothy convida Leanne a participar de seu ritual de cuidados com Jericho, ignorando a artificialidade da situação e reforçando tanto sua fragilidade emocional quanto sua desconexão da realidade.
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A figura de Leanne (Nell Tiger Free) se torna ainda mais ambígua. Enquanto demonstra um comportamento dócil e ingênuo, suas atitudes revelam uma rigidez moral inquietante. O destaque do episódio fica por conta da sua reação a um vídeo antigo de Dorothy cobrindo uma matéria jornalística pesada. Leanne a observa com um misto de fascínio e julgamento silencioso, catalogando peças sobre quem Dorothy realmente é. A cena do boneco de urso — que nomeia o episódio — é central, pois Leanne o costura de forma quase ritualística. A metáfora de “reparar o que está quebrado” se aplica tanto ao brinquedo quanto à família Turner, mas o episódio insinua que o resultado pode ser perturbador e inesperado.

O caos é bem-vindo com a chegada de Julian Pearce (Rupert Grint), irmão de Dorothy, que traz sarcasmo, deboche e uma dose necessária de agressividade. Julian funciona como a voz da incredulidade, e sua química com Sean é excelente, formando a resistência ao mistério. No entanto, o próprio Julian é suspeito, guardando segredos sobre o passado dos Turner. Sua frieza e a observação tensa que ele dedica a Leanne, tentando decifrar “o que ela é”, reforçam a tensão psicológica da série. Rupert Grint filmou grande parte desse episódio logo após entrar no elenco, estabelecendo imediatamente seu personagem como o mais intenso e imprevisível.
Em suma
A atmosfera do episódio, muitas vezes dirigida pelo produtor executivo M. Night Shyamalan, é lenta e sufocante. A série usa silêncio como ferramenta narrativa, trabalhando com quadros fechados e sombras. O terror é construído através de gestos (um olhar, um objeto deslocado), e não de jumpscares. “Bear” é menos sobre respostas e mais sobre insinuar que há algo absolutamente errado — e possivelmente sagrado ou profano — em Leanne. É um capítulo silencioso, mas profundamente desconfortável, que prepara o terreno para o horror sutil e emocionalmente corrosivo que a série quer contar.
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